
A Liga Espanhola não está bem, quem o diz é José Maria Gay, conceituado professor da Universidade de Barcelona, que apresentou um estudo sobre o estado do futebol espanhol, analisando as receitas e as despesas dos clubes que pertencem áquela que é considerada a melhor Liga do Mundo.
Segundo o estudo, a dívida conjunta dos clubes de La Liga em 2008/2009 ascendem aos 3,526 biliões de euros, aumentando 1% relativamente à época anterior (2007/2008) que era de 3,490 biliões de euros.
Apesar de ter havido um crescimento das receitas, também houve um aumento dos custos operacionais, que se traduziu numa diferença negativa de 249 milhões de euros. (1,455 biliões de receitas contra 1,704 biliões de custos operacionais)
Apenas três clubes tiveram resultados positivos: Real Madrid, Barcelona e Numancia (actualmente na 2ª Liga).
Os custos com pessoal representam 85% do lucro operacional. Gay diz que "não há ilusões. O futebol espanhol está numa situação difícil, como o país. Você não pode gastar mais do que ganha. É uma regra fundamental para a sobrevivência económica".
O Real Madrid e o Barcelona são os clubes mais ricos porque conseguiram renegociar os seus direitos televisivos avaliados em 560 milhões de euros. No entanto, segundo o professor, "a Liga Espanhola terá de mudar, senão assistiremos a uma réplica da Liga Escocesa, onde só dois clubes dominarão os campos desportivos e financeiros".
O Barça esta ano foi campeão com 99 pontos, o Real foi segundo com 96 e o Valência terceiro com 71, a 25 pontos do segundo. "Quem pode ganhar o campeonato? Barça ou Madrid. Madrid ou Barça. Ninguém mais!", disse Gay. "Talvez seja o momento certo para renegociar as regras do jogo económico entre os protagonistas".
O Real Madrid e o Barcelona têm sido pressionados pelos clubes mais pequenos a renunciar ao seu domínio nos direitos televisivos e a adoptar o sistema usado em outras ligas (como a inglesa, por exemplo), onde o dinheiro é dividido entre todos.
No entanto, os dois clubes alegam que o dinheiro da televisão repartido os faria perder a competitividade que detém nesta altura, fazendo com que não conseguissem comprar os melhores jogadores do Mundo, pagando-lhes os salários de topo.
Jose Maria Gay diz no entanto que "quer o Real, quer o Barça têm de fazer um esforço de sacrifício para que o campeonato possa voltar a prosperar".
"Um passo atrás, para dar dois em frente. Se isso não acontecer, o campeonato vai viver numa agonia constante". Gay disse que uma das principais razões para as finanças dos clubes espanhóis estarem tão mal são os custos com pessoal, dando como exemplo o Atlético de Madrid, Sevilha e Valência, onde esse custo foi consideravelmente maior que o lucro operacional. "Isso significa que o modelo económico adoptado é insustentável, e os clubes são obrigados a recorrer a receitas extraordinárias para acabar com os seus déficites", afirma o professor, acrescentando que "tal como no Estado Espanhol, o futebol precisa de cortes drásticos nas despesas, especialmente nos salários, ou seja, todos têm de apertar o cinto".
O estudo está incompleto, porque segundo Gay, Atlético de Madrid, Villareal, Almeria, Racing Santander, Sporting Gijón e Huelva não tinham apresentado as suas contas relativas ao exercício de 2008/2009, estando por isso atrasados na sua própria contabilidade, usando assim os dados da época anterior.
Entretanto e depois da divulgação do estudo, ficou hoje confirmado que David Villa, um dos melhores jogadores espanhóis e um dos maiores activos do Valência, foi vendido ao Barcelona por 40 milhões de Euros. O presidente do Valência já disse que a oferta era irrecusável e que era vital para que o clube poder sanear as suas contas. O terceiro classificado do campeonato espanhol vende ao primeiro o seu melhor activo. É uma bela maneira de ilustrar o que está escrito mais acima.
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